POR ENTRE… A FRIEZA DA DOR
Olhei o velhote que entrava… às muletas agarrado,
Sem ninguém… de olhar triste, todo molhado,
Com a roupa pingando água p’ró chão…
E ele ali ficou, no meio da sala, especado,
Olhando as gentes e as paredes brancas… assustado,
À espera que alguém lhe desse um pouco de atenção.
Mas as gentes nem para ele olhavam,
Porque as suas maleitas já os preocupavam,
E ele era mais um, dos que de ajuda estão precisando…
E eu pensei em como a sociedade está a ficar,
Indiferente a tudo o mais que se está a passar,
E que cada um, como puder, se vá desenrascando.
Mas quando, para o ajudar, me estava levantando,
Reparei na sorridente criancinha que já caminhava,
E que chegando-se a ele, na trôpega mão foi pegando,
Levando-o devagarinho para a cadeira onde se sentava.
… e naquela branca sala, por entre a frieza da dor,
O sorriso da alegria aqueceu o coração de quem olhava,
Ao lembrar que mesmo na tristeza de quem desesperava,
Ainda existia a pequenina semente do místico amor.
(J. Carlos – Abril 2015)
Imagem da Net
* Muitos acreditam que
o oposto do amor é o ódio mas, na verdade, poderá ser a frieza da indiferença.
A indiferença bloqueia todo a forma do relacionamento e transforma as pessoas
em seres frios que não se importam com os demais.
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