domingo, 28 de julho de 2019

Velhice... a poesia do final




















VELHICE... A POESIA DO FINAL



Nesta vida... a vida é mesmo bem agitada,
E o tempo e a beleza, sem querer-mos vai passando,
Só que quando olhamos e vemos que já é passada,
É que sentimos que passou... e que não está voltando.


Pois nesta sociedade popular e consumista,
Tudo serve, para a atenção p’rá beleza chamar,
Mas lá, na eternidade, donde temos outra vista,
A beleza desta vida... não irá mais interessar.


Por isso, quando este principio se entender,
Nós do corpo, teremos que cuidar com atenção,
Porque ele será o templo, onde a alma irá viver,
Mas a alma apenas irá mostrar... a beleza do coração.


E quem o bem, nesta vida, vai espalhando,
Fazendo nela o que o coração lhe pedir,
O tempo, na sua vida, nem dá que está passando,
E ao olhar o seu rosto no espelho... para ele vai sorrir.


Por isso, se por esta vida fores passando,
Olhando o espelho, e sabendo que ele não está mentindo,
Tu que nasceste neste mundo... chorando,
Sabes que a tua alma dele irá partir... mas sorrindo!...


(J. Carlos – Outubro. 2004)
Livro 3 (Sentimentos… da Minha Alma)
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Quando em Ti... esta geração já confiar














QUANDO EM TI...
ESTA GERAÇÃO JÁ CONFIAR 


                                             
Alguém me disse que Deus, estava em tudo que no Universo existia,
E eu acreditei, pois era isso que no coração também sentia,
Ou então, a existência da vida, não teria, para mim, uma razão...
E com tal verdade, nesta vida, vou vivendo e vou estando,
Pois a cada dia, mais e mais, dentro de mim sinto e vou pensando,
Em viver a vida a cada dia que passa, com alegria e amor no coração.


Mas que Deus me perdoe, pelo dia em que me pus a duvidar,
Ao ver tantas crianças abandonadas e com fome a chorar,
Sabendo que os ricos, do mundo, nunca com eles se preocuparam...
E a minha alma de poeta, nesse dia, tanto que ela chorou,
Pelas crianças que choravam, e por tudo o que Deus passou,
Quando os Seus Profetas, neste mundo, por nós, tanto choraram.


E por tudo aquilo que, nesta vida, o mundo está passando,
Sentindo que o ser humano, as belezas e o amor, está queimando
Ao atear no mundo, aquele fogo que fica destruindo o coração...
Perdoa-me pois, meu Deus, por eu nesse dia duvidar,
E peço-te que ajudes as crianças em Ti a confiar,
Para que um dia, nesta Tua terra, apareça uma Nova Geração.


(J. Carlos – Agosto. 2009)
Livro 3 (Sentimentos… da Minha Alma)
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Náufrago... no oceano da vida



NÁUFRAGO… NO OCEANO DA VIDA 



Fui náufrago no oceano da vida,
Andei tanto tempo navegando à deriva,
Perdido neste mundo da realidade e da ilusão…
Andei… mas desejoso de na vida parar,
De encontrar um porto e nele lá descansar,
De finalmente sentir na vida… amor e gratidão.



Mas no desejo só havia o sentimento que calava,
E se por entre as ondas ainda com esperança remava,
Nada me ajudava a deste oceano conseguir-me libertar…
E procurei… procurei do meio dos desejos sair,
Pois apenas os meus gritos podia por lá ouvir,
E nada mais se passava no vazio deste meu navegar.



Exausto do cansaço, num dia do outro dia, adormeci,
E depois, no meu sonho, uma jovem donzela eu lá vi,
Estendendo os braços e p’ra junto de si me chamando...
E pelas águas deste mar, cegamente, para ela fui levado,
Sem saber para onde iria com o seu chamado,
Pois no tempo… muito, muito tempo se passou.

E a minha mente, vazia, de nada se recordou…
Até ao momento em que nessa praia do sonho acordei,
E ali, brincando na areia, o meu olhar em ti reparou.

… e vi no teu, que a minha alma gémea, encontrei!...


(J. Carlos – Fevereiro. 2007)
Livro 3 (Sentimentos… da Minha Alma)
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Senti a alma partir...













SENTI A ALMA PARTIR...



Lá p’ra longe, até onde a minha vista enxergou,
Eu não vi réstia, nem esteva, do pouco que lá ficou,
Pois só vi aquela névoa que lá longe se levantava...
Mas ao fim de tanto tempo... daquele ponto p’ra onde olhei,
Apareceu aquela beleza de branco... que de onde nem eu sei,
E que levantando os seus braços, lá de longe me acenava.


Se seria real, ou somente uma radiosa visão
Eu não sei, mas era tão clara a sensação,
Que corri e corri... que de correr me esfalfei...
Mas quando mais perto estava, mais longe estava ficando,
E de tanto que eu olhei... com tal calor estava cegando,
A ponto de tão cansado, eu cair e não mais me levantei.


E o meu corpo naquela área deitado... levantar-se, recusou,
E tanta coisa e tanto tempo pelo meu corpo passou,
Que eu já tinha aquela sensação de aqui não pertencer...
Mas foi quando tu, meu amor, este meu rosto beijaste,
E o meu corpo, e o meu rosto, meigamente acariciaste,
Que senti a alma partir e que o meu corpo acabava de morrer.


(J. Carlos - Maio. 2010)
Livro 3 (Sentimentos… da Minha Alma)
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domingo, 21 de julho de 2019

Lágrimas frias















LÁGRIMAS FRIAS




Uma... duas... três... lágrimas frias, foram do céu caindo,
Não sei... se de tristeza, ou talvez de preocupação,
Mas uma coisa eu senti... que o céu estava talvez sentindo,
A amargura que em mim tinha... o vazio desta minha solidão.



Da solidão que vem da minha alma, do fundo do meu sentir,
Da falta da brisa suave que já não oiço nas serranias a cantar,
Do trinado da passarada... que cedo se deixou de ouvir,
Porque o céu cinzento, só lágrimas tristes na terra vem lançar.



Agora oiço, também ao longe, um trovão a ribombar,
E eu não sei se são foguetes de alegria, ou um canhão a matar,
E vejo crianças sofrendo, de frio e de fome morrendo,
Sem ninguém se preocupar, com o que na vida estão sofrendo.



E vejo homens adultos olhando... fingindo que não estão olhar,
Com aviões ou com tanques e canhões, nesta vida, guerreando,
E os homens ricos, novos jogos de guerra, inventando,
Para as crianças, cedo aprenderem, no futuro, a se matar.



Mas na esperança, o céu cinzento aos poucos se está abrindo,
E o sol, já espreitando, de novo começa para mim sorrindo,
Talvez querendo, com a minha solidão, já terminar...

E de novo, tudo o que me rodeia, começa neste dia a despertar,
Entoando nos sons da natureza, o cantar duma nova sinfonia,
E junto a mim, já oiço gargalhadas infantis de alegria,
E ao longe... ainda lá muito ao longe...
O som dos foguetes, no céu das estrelas... lá no alto a rebentar.


(J. Carlos - Junho. 2009)
Livro 1 (O Outro Lado da Minha Alma)
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Os campos estão sózinhos... abandonados












OS CAMPOS ESTÃO SÓZINHOS
... ABANDONADOS




Os campos estão sozinhos... todos já abandonados,
A terra quente... gretada... sem ter água para beber,
E até os homens os deixam... e partem p’ra outros lados,
Sem deles, que lhes davam pão... quererem afinal saber.



E vem o fogo, umas vezes lentamente, de mansinho,
Outras das vezes, com a força doida já do seu embrutecer...
Levando tudo aquilo que é verde... devagarinho,
Até queimando as casas pobres... para os pobres empobrecer.



E a mão malvada do homem, sem ter dó nem piedade,
Lança o fogo, para ele, tudo à sua volta enegrecer...
Deixando os pobres... que da chuva sentem saudades,
Ficarem caídos, chorando, sem mais vontade p’ra viver.



E os dias passam, e vem a bonança para a alegria lembrar, 
E vem as lágrimas do céu, para a terra de verde se enfeitar,  
Tocando os sinos da aldeia, quando o sol já está para sumir...
E as gentes ricas e pobres que viram as suas coisas arder,
Vão p’ra junto da fogueira, alguma pouca coisa comer,
Para esquecerem a noite, em que o fogo não as deixou dormir.


(J. Carlos - Maio. 2011)
Livro 1 (O Outro Lado da Minha Alma)
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Esta terra bendita...














ESTA TERRA BENDITA…



                                                   
Ontem quando acordei, estava um dia bem bonito,
Mas logo as nuvens negras, o tornaram esquisito,
Com tanta água que vieram a correr p’ra cá deitar…
E eu, que feliz tinha nesse dia acordado,
Logo me apeteceu ir p’rá cama, e por lá ficar deitado,
Até que o calor do sol viesse de novo, para esta terra secar.



Mas depois, para mim fiquei pensando…
Se eu durante todo o dia tinha andado guerreando,
Contra aqueles, que esta terra tem estado a estragar…
Afinal só porque as nuvens, a chuva para a terra lançaram,
Eu, e os outros mortais, também só em si pensaram,
Pois só querem que o sol venha, p’ra irem p’rá rua passear.



E esses são os problemas que na vida vão surgindo,
Pois os homens, que tudo querem, passam a vida mentindo,
E com esta terra, pouco a pouco, vão com ela acabando…
Mas hoje com a leitura dos jornais, fiquei mais preocupado,
Pois tudo aquilo, que os homens tem nesta terra provocado,
Faz com que lentamente, contra eles, se vá manifestando.

E eu, que ainda ontem vi a terra seca, de castanho vestida,
Que, tristemente, com a camisa negra se foi deitar…
Hoje, quando p’ra ela olhei, já a vi toda alegre e colorida,
Feliz, porque de vaidosa… de verde já se estava a enfeitar.


(J. Carlos – Março. 2012)
Livro 2 (Silêncios… da Minha Alma)
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domingo, 14 de julho de 2019

As flores... do negro alcatrão














AS FLORES…
DO NEGRO ALCATRÃO



Espantado, agachei-me para apanhar,
A linda flor que no negro alcatrão estava a nascer,
Mas parei, pois uma vozita interior me dizia p’ra parar,
E também… que uma tal coisa eu não deveria fazer.


E mais me disse… que ela ali tinha ido parar,
Pois o destino, ao vento pediu para as sementes espalhar,
Ajudando assim a florir de novo o que o homem mudou…
Porque esta sociedade, que tem os campos abandonados,
Trouxe o homem p’rás cidades para lá ficarem entaipados,
Entre os monstros de betão, que ele próprio inventou.


E hoje, para lhes criar uma falsa ilusão,
As luzes e plantas artificiais são a sua nova invenção,
Para serem felizes, e até nem protestar…
Mas as crianças, Senhor, não são disso as culpadas,
Por isso, as sementes tem vindo a ser espalhadas,
P’ra trazerem a beleza, onde só a tristeza está lá a morar.



(J. Carlos – Agosto 2013)
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… e a minha alma ficou feliz ao ver este vídeo que alguém lhe enviou.
http://www.youtube.com/embed/v56VNOVhpoU
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sábado, 13 de julho de 2019

Canto ao Alentejo...














CANTO AO ALENTEJO…



Canto ao Alentejo de belos tons e sois ardentes,
Recordando com saudade as amenas tardes quentes,
E a madorna convidante à soneca debaixo do sobreiro…
Canto às saudades da água da barragem… refrescante,
Dos bandos de patos selvagens que em voo rasante,
Por lá ficavam, e só fugiam quando ouviam o rafeiro.


Lembro o olival de azeitonas pretas, enfeitado,
Do saboroso azeite por todos nós tão apreciado,
Tirado das azeitonas de sabores frutados e picantes…
Lembro o céu azul, pela neblina quente sombreado,
Do negro do céu, pelas estrelas brilhantes salpicado,
Que faz sonhar com outros mundos, do nosso, tão distantes.

Canto ao Alentejo dos cantes pelo vento suão levados,
Das tristezas das suas gentes que nos corpos alquebrados
Sentem a falta dos trigais, e das lindas espigas ondulantes…

Canto simplesmente ao Alentejo,
Com os campos… que ainda de verde estão pintados!


(J. Carlos – Maio 2013)
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Por entre... a frieza da dor




















POR ENTRE… A FRIEZA DA DOR



Olhei o velhote que entrava… às muletas agarrado,
Sem ninguém… de olhar triste, todo molhado,
Com a roupa pingando água p’ró chão…
E ele ali ficou, no meio da sala, especado,
Olhando as gentes e as paredes brancas… assustado,
À espera que alguém lhe desse um pouco de atenção.



Mas as gentes nem para ele olhavam,
Porque as suas maleitas já os preocupavam,
E ele era mais um, dos que de ajuda estão precisando…
E eu pensei em como a sociedade está a ficar,
Indiferente a tudo o mais que se está a passar,
E que cada um, como puder, se vá desenrascando.


Mas quando, para o ajudar, me estava levantando,
Reparei na sorridente criancinha que já caminhava,
E que chegando-se a ele, na trôpega mão foi pegando,
Levando-o devagarinho para a cadeira onde se sentava.

… e naquela branca sala, por entre a frieza da dor,
O sorriso da alegria aqueceu o coração de quem olhava,
Ao lembrar que mesmo na tristeza de quem desesperava,
Ainda existia a pequenina semente do místico amor.


(J. Carlos – Abril 2015)

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* Muitos acreditam que o oposto do amor é o ódio mas, na verdade, poderá ser a frieza da indiferença. A indiferença bloqueia todo a forma do relacionamento e transforma as pessoas em seres frios que não se importam com os demais.

Pedras... do meu passado
















PEDRAS
… DO MEU PASSADO



Olho lá p’ra baixo, para o rio correndo,
Por entre pedras cinzentas com urzes também,
E desço pelo velho quelho, à partida sabendo,
Que irei molhar os pés na água que corre p’rálém.



E nesta forma de escrever fico-me perdendo,
Ao falar duma recordação do tempo d’álém,
Mas são elas que ainda me vão trazendo,
Aquela paz de espírito que me sabe tão bem.



E as pedras já gastas, todo o tempo sofrendo,
Com o pisar das gentes, pelo quelho descendo,
Guardam para si as tristes lamentações…

Pois algumas das gentes que por lá passaram,
Já esta vida para sempre abandonaram,
Ficando nas pedras do quelho, apenas, recordações.


(J. Carlos – Março 2015)
Foto de J. Carlos / Gestosa Fundeira. 2019



Esta tristeza do fado...














ESTA TRISTEZA DO FADO…



A noite, ainda bem cedo, logo me acordou,
E nada me disse… nem comigo falou,
Deixando os meus pensamentos perdidos, à toa…
E muitas coisas e lugares andaram a visitar,
Até que finalmente acalmaram… só de pensar,
Na minha mística e bela cidade de Lisboa.




Da Mouraria e Alfama, dos seus becos e calçadas,
Das belas sete colinas todas elas debruçadas
Sobre o rio Tejo, lá em baixo todo lampeiro a correr…
Talvez ansioso por encontrar o mar e p’ra lá levar o fado,
Divinamente, pelas velhas guitarras acompanhado…
Do fado… onde as fadistas cantam a dor do seu sofrer.



Ai… esta minha velhinha cidade de Lisboa,
Por onde tantas das vezes passeei á toa,
Sempre na procura do seu encanto e beleza…

Pois nela, encontrei o que noutros lados não havia,
Mas onde também vi tanta gente que sofria,
E talvez por isso, o fado, canta a minha dor e tristeza.



(J. Carlos – Agosto 2014)
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Quando o mar bate...











neste país à beira-mar
QUANDO O MAR BATE…



Refestelado no sofá, a pensar em descansar,
Vou lendo o jornal e ouvindo a televisão…
Mas pelas noticias, logo me dá vontade de alevantar,
E ir poetizar sobre um molusco, de seu nome mexilhão.


… mas o porquê duma tal questão nem eu o sei,
será por lembrar-me do provérbio que nisso logo pensei…?



Pois, no partido desejoso de nos vir a governar,
Daquilo que um já fez, o outro já se quer aproveitar,
E vistas bem as coisas, a barraca está montada…
Agora, entre abraços e beijocas andam os dois atarefados,
Cada um pelo seu lado, cantarolando diversos fados,
Para convencerem a malta que do partido anda afastada.


E dos partidos que nos andam governando,
Depois de tudo o mais que já nos foram sacando,
Vão certamente sair, deixando o país mais embrulhado…
Pois, lá pela justiça, nos processos é geral a confusão,
Entre professores e ministro deita-se abaixo a educação,
E na saúde, falta já tanta coisa, que anda tudo infectado.


E neste país de marinheiros que já se está afundando,
Gerido por um presidente que passa a vida avisando,
E certamente pensando, nos próximos passeios onde irão…
Aos novos, só resta deste país emigrar,
Aos velhos e criancinhas irem á sopa dos pobres almoçar,
E no meio disto tudo, ter-mos o tal provérbio em atenção…


Pois…
“Quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão”


(J. Carlos – Setembro 2014)
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sexta-feira, 12 de julho de 2019

Olhão - Só uns... carapauzitos alimados














“Al - hain “ - “Alham” - “Olham”
Olhão da Restauração                            
SÓ UNS ...
CARAPAUZITOS ALIMADOS
 



Neste cantinho do meu país, onde estou por cá morando,
O Inverno já é companheiro... mas o sol ainda anda passeando,
E isso é o que nos vale... pois o país já está a enregelar...
Porque lá p’ra cima, os políticos já instalaram a confusão,
E em casa onde não há pão... todos ralham e ninguém tem razão,
Cá por baixo onde vivo, o que nos vale, é este mar p’ra navegar.


Porque apesar da noite fria, os barcos vão p’ró mar navegando,
E muito eles vão trazendo... p’rá fome que já se vai instalando,
Pois, ao fim e ao cabo, os campos também estão abandonados...
E eu, que no final da vida, já só me resta é poetizar,
Decidi, calmamente, o mercado ribeirinho ir visitar,
E ainda bem, pois comprei carapauzitos, para serem alimados.


Só que vos posso dizer, que nunca na minha vida o tinha feito,
E como p’ra coisas de cozinha também não tenho grande jeito,
Mal a casa cheguei, procurei a receita no velho computador...
E a verdade, é que por lá, eu muitas receitas encontrei,
E se os políticos as encontrarem como a dos carapaus que alimei,
Meus amigos vos garanto... que o país, não vai mais sentir a dor.



Por isso, neste cantinho algarvio, eu irei por cá ficando,
Olhando a ria Formosa para as tristezas de dentro de mim tirar,
Á espera que os políticos, uma solução fiquem encontrando,

Para que este país da beira-mar... não se venha a afundar.


(J. Carlos - Outubro. 2010)
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A nossa noite de fados...













A NOSSA                                
NOITE DE FADOS...



Quando p’rá rua saí, encontrei a madrugada,
Deambulando pela noite, sem ter nada p’ra fazer,
Mas quando me viu, correu p’ra mim, com ar de desajeitada,
Parecendo-me não saber lá muito bem, o que depois me dizer.


E como eu estava sozinho... apenas passeando,
Também corri, de braços abertos, para logo a receber,
E depois dos beijinhos e abraços, devagar fomos andando,
Mas entretanto falando... p’ra ver o que iríamos fazer.



E como não tínhamos ninguém já esperando,
Partimos logo, noite adentro, para nela passear,
E foi quando, a minha amiga, tratou de me ir desafiando,
Para eu, os meus tristes poemas, pedir a alguém para cantar.



E eu, não tendo nada a perder, logo na primeira tasca entrei,
Pedindo à jovem fadista, para os meus poemas entoar...
E quando numa guitarra peguei e também a dedilhei,
Sentimos que a nossa noite… ainda agora iria começar.


(J. Carlos – Junho 2011)



Naquela noite...




















NAQUELA NOITE...



Naquela noite branca de neve... chuvosa e fria...

Olhei p’ra dentro daquela velha caixa de cartão,
E lá dentro vi uns olhos tristes, que p’ra mim estavam a olhar...
E também vi um corpo encurvado onde ainda batia um coração,
Mas que só jornais e trapos rotos... esse corpo estavam a tapar.

Assustado... os meus passos eu rapidamente apressei,
Sem mais querer saber porque aquele homem estava ali deitado,
Mas depois caí em mim... e logo para trás de novo eu voltei,
P’ra saber se de alguma coisa, o pobre velhote estava precisado.

E ele me disse, que muitas caixas de cartão queria ajuntar,
Para que no futuro elas não viessem, ali no sítio, a faltar,
E poderem servir de camas aos que ainda hoje eram crianças...
Para que quando fossem velhos, e na calçada fossem lá dormir,
Que, como ele, tanto frio durante a noite não viessem a sentir,
E na vida... e nas gentes... continuassem ainda a ter esperanças.




E eu comigo pensei, como está tão podre esta pobre sociedade,
Que deixa que os seus velhos já vivam da triste mendicidade,
E que sem um tecto terem... na rua, ao relento, tem que dormir...
E dos meus olhos, as lágrimas, pela minha face logo rolaram,
E as minhas mãos, logo outras caixas de cartão... ali juntaram,
Para os outros velhos do futuro... terem uma coisa p’rós cobrir.

Mas... o meu coração, logo sentiu o poder do amor sentimental,
Vendo aquela jovem, que trazia um cobertor que queria oferecer,
Àquele pobre velho ali deitado... para o seu corpo ele aquecer,
Naquela noite branca de neve... chuvosa e fria... noite de Natal.


(J. Carlos – Janeiro.2009)
Livro 3 (Sentimentos… da Minha Alma)
in (Horizontes da Poesia – 10ª. Antologia/2018)
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quinta-feira, 11 de julho de 2019

Um simples desejo














UM SIMPLES DESEJO



Aproximou-se de mim, devagarinho,
Já bem encurvado, mas com ar limpinho,
E um sorriso nos olhos, num rosto enrugado…
Deu-me os bons dias com voz sumida,
Foi-me falando da vida já percorrida,
Agora sozinho e a viver em qualquer lado.


Perguntei-lhe donde vinha, por perguntar
Mas sempre sorrindo, disse-me não recordar,
Pois os seus pais, e ele, por muitos lados andaram…
Perguntei-lhe de si, ficando com um ar parado,
E foi-me dizendo já de pouco estar lembrado,
Pois na sua cabeça, as coisas já se baralharam.


Depois dalgum tempo, umas moeditas me pediu,
Para poder comer uma bifana… e logo sorriu,
Talvez tentando recordar o sabor que ela teria…
E eu dei-lhe o pouco dinheiro que tinha comigo,
Mas que chegava para satisfazer o desejo antigo,
Que estava dentro da sua cabeça… e não saía.


Despediu-se, com o sinal da cruz, meio aturdido,
Erguendo os olhos ao céu, com um ar agradecido,
Talvez por, finalmente, o seu desejo poder satisfazer…
E a minha alma chorou… mas de pura emoção,
Pois eu, felizardo na vida, nunca mostrei gratidão
Por tantas bifanas que comi dentro do pão…

Mas ao pensar nesta… pela primeira vez senti prazer.


(J. Carlos – Outubro 2014)
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Simplesmente... miséria envergonhada














SIMPLESMENTE
… MISÉRIA ENVERGONHADA



Aproximou-se, com a mão enrugada meio estendida,
No rosto um sorriso triste, esperando a moeda esquecida,
Que possa, nalgum bolso, por lá ter ficado…

Pois que esmola grande… como por cá se diz,
Até leva o pobre a ficar meio desconfiado…
Ainda mais neste recanto com tudo desmantelado,
E que nos deixa a pensar… como vai triste este país.



Do bolso, retirei as poucas moedas que me estão restando,
Pois que este pobre homem, delas, está bem precisando,
Até mais do que eu, que ainda não ando a mendigar…
E penso cá p’ra comigo que, como ele, outros virão,
Pois como vai o país, ou se pede esmola ou se vira ladrão,
Ou se emigra… para a pobreza não ter-se que enfrentar.

… e agora paro no rabiscar desta minha reflexão,
Pois até a caneta, a escrever, se recusa a continuar…
Já que a angústia se apoderou deste meu triste coração,
E a alegria, á muito que neste país, já deixou de cá morar.


(J. Carlos - Maio. 2013)

Voa... minha alma, voa!














VOA …
MINHA ALMA, VOA!



Abri-lhe a mão com o comer… quando poisou,
Pus-me a olhar para ela… e ela grasnou,
E ali ficamos os dois á espera do que o outro faria…
Deixei a mão quieta… e ela se espanejou,
E eu continuei á espera… e ela com o bico se catou,
Mas logo foi-se aproximando, parecendo que me sorria.




Devagarinho, deu bicaditas e do pão depenicou,
E vendo que eu nada fazia, já descontraída, continuou,
E logo, o resto que ficou, ao seu papo foi parar…
Depois chegou-se para trás, como que esperando,
Correndo com uma outra que se estava aproximando,
Pois no seu território, mais nenhuma podia lá entrar.

…e como fiquei p’ra ela olhando sem mais nada lhe dar,
Espreguiçou-se e catou-se, bateu asas e voou…
Dando uma voltinha por cima do amigo que aqui ficou
A pensar... como a sua alma será feliz quando puder voar.


(J. Carlos – Janeiro 2015)
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terça-feira, 9 de julho de 2019

Simples heróis... dum passado que passou















SIMPLES HERÓIS…
DUM PASSADO QUE PASSOU



Por entre a bruma, que ao mar encobria,
Aparece o mostrengo que só prometia,
A todos comer até se enfartar…
Mas os marinheiros assaz destemidos,
Bradaram aos céus e foram ouvidos,
Pelos anjos de lá que os vieram ajudar.



E de armas em riste perderam os medos,
Correndo p’ró mar p’ra junto dos demos,
Que em debandada p’ra longe fugiram…
E conta a história que esses marinheiros,
Foram entre os do mundo, assaz os primeiros,
E a vencerem os medos… só eles conseguiram.

E hoje, olhando p’rá história com tantas glórias,
Penso nestes heróis que sofreram tantos revezes…
E que hoje só são recordados pelas suas histórias,
Mas que nos deixam o orgulho de sermos portugueses.


(J. Carlos – Junho 2013)
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Letra triste... para este fado triste

















LETRA TRISTE...
PARA ESTE FADO TRISTE



Olhei e vi toda aquela gente procurando,
Pela poesia... que já ninguém estava encontrando,
Por não saberem onde ela poderia, noite adentro, pernoitar...
E vi que toda a gente quase que estava enlouquecendo,
Pois tudo aquilo que não era... até já lhes estava parecendo,
A tal poesia do fado... que todos, afinal, queriam era cantar.


E eu procurei, por vários meios, a poesia encontrar,
Lá no fundo da rua da saudade... aquele especial lugar,
Onde o fado, tristemente, durante a noite, se escondia...
Mas a tristeza, era afinal um sentimento somente,
Que pertencia, sem querer, a toda aquela gente,
Gente que no coração... uma tal saudade nele sentia.


E assim, desejando eu perdidamente...
Conhecer o fado, que tocava o coração de toda agente,
E que no meio da multidão, sozinho, não conseguia encontrar...
Para o meio da serrania, eu do bulício humano fugi,
Porque só na natureza, dentro do meu coração depois senti,
A letra para este fado, que todos queriam, afinal, era cantar.


(J. Carlos – Novembro 2010)
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sábado, 6 de julho de 2019

Que o vento as sementes vá espalhar


QUE O VENTO
AS SEMENTES VÁ ESPALHAR



Senti a aragem do vento, que agora por mim passou,
Que das minhas mãos, as sementes logo tirou,
E que para outro lugar, que eu não sei, as foi deixar...
E p’ra mim penso... onde é que elas terão ido cair...?
Se depois, por lá, também elas irão florir,
E se outras mãos, como as minhas, as flores irão lá apanhar.



E estou feliz, só de em tal coisa estar pensando,
Pois eram das flores que durante o dia estive apanhando,
E que, com todo o meu amor, nas tuas mãos fui entregar...
Por isso fico feliz, pois outro alguém da amada se lembrou,
E também com muito amor, a correr, logo as apanhou,
De tal forma, que o amor dessas flores, irá sempre continuar.

E quando das sementes das flores um novo sentimento nascer,
Continuando a mística do verbo amar, a espalhar o seu calor,
Outras mãos, essas sementes, ao vento irão de novo oferecer,
E assim em toda a terra se espalharão... as sementes do amor.



Livro 1 (O Outro Lado da Minha Alma)

Ó AMIGO! 
No jardim de teu coração, nada plantes salvo a rosa do amor e não te desprendas do rouxinol do afecto e do desejo. 
Estima a companhia dos justos e evita toda associação com os ímpios.
( Palavras Ocultas – Bahá’u’lláh – A Glória de Deus - )


sexta-feira, 5 de julho de 2019

Sulcos... do arado do tempo


SULCOS 
... DO ARADO DO TEMPO




Olho no meu rosto as marcas e sulcos que o tempo deixou,
Quando o vento, agreste e frio, bem junto de mim passou,
E tentou, o tronco do meu corpo, logo abaixo deitar...
Mas as raízes que à terra o meu tronco agarravam,
Muito sofreram, mas deixá-lo de lá sair... não deixavam,
E o vento norte foi-se embora, p’ra outros troncos derrubar.



E aos meus ouvidos, o uivar triste dos lobos, também chegou,
Talvez chorando pois o vento os seus filhotes p’ra longe levou,
E quem sabe se nos alcantilados da serra, não se irão perder...
E ao seu triste lamento, a minha tristeza a correr se foi juntar,
Porque este meu corpo, que o vento não conseguiu derrubar,
Tropegamente vai caminhando, sem da sua vida futura...saber.



Agora tenho o meu presente... mas sem o passado lamentar,
Porque as coisas más esqueci, e só as boas tenho p’ra lembrar,
Ficando feliz a minha alma no tempo que tem para percorrer...
Por isso, quando de novo olho p’ra este meu rosto cansado,
Vejo que por ele passou o tempo como pela terra passa o arado,
Antes do lavrador, as espigas do pão... dessa terra recolher.


(J. Carlos - Novembro. 2010)
Livro 1 (O Outro Lado da Minha Alma)
imagem da net

CAMINHANDO… pelas ruelas