sábado, 29 de junho de 2019

Simples... e pobres mariscadores

SIMPLES…
E POBRES MARISCADORES



Logo bem cedo, sem maré nem sol nascente,
Lá vão eles e elas com os baldes na mão pendente,
Para, no meio da areia, procurarem o seu sustento…
De botas altas… encurvados para o chão,
Metidos na água fria… procurando com a mão,
Os pequenos bivalves… um saboroso alimento.


Mas, por entre a névoa, a maré sobe lentamente,
Quase sem darem por isso… e de repente,
Logo tem a água chegando aos ombros entorpecidos…
E muitos deles, na sua labuta, assaz descuidados,
São, de repente, pelas ondas altas apanhados,
E, pobres deles, para sempre por lá ficam perdidos.


Outros, felizes com a sua apanha, estão regressando,
Mas logo vem a policia que os estava espreitando,
E lhes tira tudo, deixando a multa para pagamento…
E eles, pobres de si, que p’ró comer procuravam ganhar,
Regressam a casa, de rosto triste, quase a chorar,
Pois o estado logo lhes tirou o que era o seu sustento.

… e quando já em casa, os filhos estendem a mão,
Pedindo-lhes a comida porque estão esperando…
Logo veem os seus rostos, de raiva, se crispando,
E os olhos enchendo de lágrimas, por não trazerem pão.


(J. Carlos – Janeiro 2015)
http://www.rtp.pt/noticias - 21 Dez, 2014
Mariscadores arriscam multas e a própria vida.
A apanha da amêijoa é um meio de subsistência. A actividade é ilegal para a maioria dos mariscadores…

sábado, 22 de junho de 2019

O velho... do velho carro de mão


O VELHO...
DO VELHO CARRO DE MÃO



Arrasto atrás de mim, este carro enferrujado,
Onde nele guardo as coisas, que na vida consegui,
E elas são tão poucas... que não me assusta ser roubado,
Nem tão pouco me preocupa, tudo aquilo que eu na vida perdi.



Dizem agora, que sou um estorvo para esta sociedade,
Eu... que só procuro um vão de escadas p’ra dormir...
Pois apenas sonhos persegui... durante a minha mocidade,
E só este carro velho e estas caixas de cartão, eu iria conseguir.



Será que olho p’ró passado com saudade...? Ou com tristeza...?
Aí, eu paro e penso... que nele só fiz o que tinha que fazer,
E no futuro que me resta, para ele, não adianta mais olhar...

Pois agora nos meus sonhos, só tenho o sentir da tua beleza,
Que é a minha força de viver... e a minha alegria e fortaleza,
Enquanto desta vida não partir... e lá no céu não te encontrar.


(J. Carlos – Maio. 2010)
Livro 1 (O Outro Lado da Minha Alma)
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sexta-feira, 21 de junho de 2019

Pedras brancas que o tempo de negro manchou


PEDRAS BRANCAS
QUE O TEMPO DE NEGRO MANCHOU



Olho estas pedras brancas, que o tempo, de negro já manchou,
E penso nesse homem, talvez cansado, que na altura as colocou,
Quem sabe se até doente... mas porque a isso era obrigado...
Mas hoje, essa alma humilde, desta vida há muito que partiu,
E certamente que aquilo que fez, nunca mais na vida viu,
E hoje essas pedras fazem parte… desta casa do passado.



E será que a sua alma, lá no céu, ainda estará pensando,
O quanto ela, aqui na terra, se estava torturando,
Preocupada, se aquelas pedras, ele as teria bem colocadas...?
E hoje, como gostaria de lhe dizer que sim, para ficar descansado,
Porque naquele edifício que fez... tudo lá está bem colocado,
Já que hoje, esta casa das pedras brancas, de escuras,
pelo tempo, estão pintadas.



E de novo olho as pedras pretas… que no tempo abrigaram,
Tantas gentes, que de um abrigo estavam precisando,
Gentes que a todo o momento, com amor, estavam abençoando,
Aqueles, que as suas pedras, tão bem nesse edifício colocaram.

As pedras que o velho tempo... ao longo do seu tempo...
de negro foi pintando.


(J. Carlos – Janeiro. 2006)
Livro 2 (Silêncios… da Minha Alma)
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Marquei o caminho...


MARQUEI O CAMINHO…



Marquei o caminho de volta, para o caminho não perder,
E olho bem em frente, para lá ao longe poder ver,
Porque de ambos os lados só tenho estevas e alecrim…
Mas, confesso, que já me sinto bem cansado,
Pois não consigo descansar em nenhum lado,
E todos os que cá passaram… pouco deixaram p’ra mim.


Pois faltam-me aquelas árvores que no caminho plantei,
E ficar a vê-las crescer… eu nisso nunca pensei,
Porque tempo não tinha, para poder por cá parar…
Pois sempre segui em frente, porque o destino o desejou,
E olhar para trás e parar, este meu corpo nunca parou,
Só desejando ir em frente, para onde Deus está a destinar.


Mas a minha alma… esta minha alma dum lado bem feliz,
Tem o outro lado que poetiza e que fica triste e infeliz,
Quando a tristeza o coração invade… e logo fica chorando…
Então, peço a Deus que me mostre um canto p’ra descansar,
Porque o meu corpo que tanto andou, já se anda a arrastar,
E como chegarei ao fim com tudo o que ele está passando...?


(J. Carlos – Janeiro.2012)
Livro 2 (Silêncios… da Minha Alma)
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quinta-feira, 20 de junho de 2019

Esta morte... assaz bem brincalhona


ESTA MORTE...
ASSAZ BEM BRINCALHONA



Da morte, a correr e bom correr... procurei dela fugir,
Quando a morte, tão cedo, de mim se foi aproximando,
Mas quando para traz olhei e a vi na rua parada a sorrir...
Também parei, para saber o que afinal se estava passando.



E ela, feliz e satisfeita por logo de manhã me assustar,
Foi-me no entanto dizendo para não ficar assustado…
Porque a minha hora de partir ainda iria demorar,
E que na vida ainda iria passar, o que nunca cá tinha passado.



E eu, finalmente descansado por uma tal coisa saber,
Logo atrás da minha vida desatei de novo a correr,
Deixando a minha morte ali na rua, com o seu ar triste, parado...

Porque eu, com ela, até nem gosto de brincar...
E não fosse ela de novo, noutro qualquer dia me assustar,
Ou até mesmo com ela levar... porque se tinha enganado.


(J. Carlos – Novembro. 2006)
Livro 2 (Silêncios… da Minha Alma)
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Mal-me-quer... Bem-me-quer


MAL-ME-QUER... BEM-ME-QUER



Peguei a florzinha amarela que encontrei,
Na beira do caminho, que estava percorrendo,
E aos poucos, devagarinho, eu de novo me lembrei,
Daquelas coisas que fazia, quando ainda era menino.



Pois, devagar, as suas pétalas amarelas, ia desfolhando,
Uma a uma... como mandava, naquele tempo, a tradição,
Bem-me-quer... mal-me-quer... e eu o ia maltratando,
Sempre na esperança duma resposta, p’ra satisfazer o coração.



E essa florzinha amarela, que nesse caminho, um dia lá nasceu,
Nas minhas mãos de menino, também logo ali morreu,
Porque eu, do amor, já no momento queria então saber...
E hoje, quando olho p’rós demais malmequeres com atenção,
Recordo de novo a lembrança que ficou neste pobre coração,
Dessa infantil alegria de criança... que ficará em mim, até morrer.

E aquele malmequer no momento colhido, eu pensei em desfolhar,
E saber, se o bem-me-quer... que agora tinha arrancado...
Neste amor que eu estava vivendo... ele iria de novo acertar.


(J. Carlos – Janeiro. 2006)
Livro 2 (Silêncios… da Minha Alma)
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Esta montanha... que de neve está vestida


ESTA MONTANHA...
QUE DE NEVE ESTÁ VESTIDA


  
Olho a montanha, lá bem ao longe, de branco toda vestida,
Que a lua, pela noite e brincalhona, à neve enfeitiçou,
Para com o sol da manhã, o seu branco derreter...
E quando toda a montanha, de manhã, surpreendida,
Se mexeu, espreguiçou... e bem devagarinho acordou,
Sentiu a brisa fresca do vento, que feliz a preparou...
Para aquele novo e lindo dia, que também estava a nascer.



E a bicharada, alegremente montanha abaixo correu,
Saltitando pelas pedras, entre as giestas, numa doida correria,
Foi descendo até ao vale, p’rá sua comida encontrar...

E cá em baixo, na floresta de betão, o pobre do velho sofreu,
A mulher, com as dores do parto, quase até enlouqueceu
Mas vendo o seu bebé tão lindo, de tudo o que passou se esqueceu,
E de feliz, para a montanha sorriu… antes do velho dia terminar.


(J. Carlos – Junho. 2006)
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sábado, 15 de junho de 2019

O barquito de papel p'ró grande mar foi navegando


O BARQUITO DE PAPEL
P’RÓ GRANDE MAR FOI NAVEGANDO


   
Os lagos, lá do céu, as suas portas abriram,
E as águas, sobre as montanhas da terra caíram,
P’ra espanto das gentes, que no vale, por lá moravam...
E as águas furiosas, lamacentas, à sua frente tudo levaram,
E das poucas coisas e pessoas, que lá nas aldeias ficaram,
Por todas as suas desgraças... tristemente elas choravam.


Mas depois, os anjos lá do céu, manhã cedo acordaram,
E a correr, de espantados, logo as portas dos lagos fecharam,
P’ra descanso das gentes cá do vale, que estavam desesperando...
E o sol, preguiçoso, por entre as nuvens pretas espreitou,
E aos poucos, a esperança p’rás gentes de novo voltou,
Mas sempre continuando a olhar p’ró céu... e rezando.


E a criancinha junto à poça de água os joelhitos pôs no chão,
E com a alegria e inocência do seu pequenino e meigo coração,
Olha o barquito de papel, que na água lamacenta lá iria navegar...
E os olhitos de tão grandes se abriram... para o barquito olhando,
Quem sabe se talvez, que no seu pequenino coração pensando,
Que ele levaria as suas doces ilusões, lá p’ra longe...
p’ró meio do grande mar.


(J. Carlos – Abril. 2009)
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Albufeira (“Al-buera” - “Baltum”)


“Al-buera”  -  “Baltum”
A  L  B  U  F  E  I  R  A


  
Piso terra nacional... a outros povos um dia conquistada,
E nela houve sonhos e amores... e sangue derramado também,
Terra que aos outros... e doutros povos, já tinha sido tirada,
Num tira e dá, da terra que é só sua, e não é de mais ninguém.


Hoje, algumas recordações do passado, ainda por lá estão,
Para lembrar aos passeantes, o que no passado se passou,
Mas os sonhos dos que aqui viveram, esses não esquecerão,
Pois das lágrimas da princesa moura, eu me lembro com emoção,
Porque com a água dessas lágrimas… as amendoeiras regou.


Agora olho para esta terra, que com água e sangue foi regada,
E sinto no lamentar do vento, as dores que o tempo não tirou,
Terra que por todos foi sempre sendo conquistada,
Mas que como terra livre... para sempre ela ficou.

Terra que tantos quiseram, pois pela sua beleza procurada,
De nome Albufeira, mas que de Baltum e Al-Buera se chamou!


(J. Carlos – Julho. 2005)
Livro 2 (Silêncios… da Minha Alma)
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Albufeira, cidade do Algarve, foi ocupada pelos romanos... e era chamada de Baltum.
Mais tarde, no século XIII, foi tomada pelos árabes e estes mudaram o seu nome
para Al-Buera, diminutivo de Baram, que significa “ Castelo do Mar “

Cuidem-se os ricos... quando a pobreza crescer


CUIDEM-SE OS RICOS…
QUANDO A POBREZA CRESCER



Caminho por cima da água suja, que as poças invadiu,
E vejo as crianças despedindo-se, do barquito que partiu,
Lá p’ra longe, para o oceano que a sua imaginação criou…
Pois só quem nos bairros da lata vive, e a pobreza conheceu,
E quem nesta pobre vida… já nada mais tem cá de seu,
É que pode sentir a miséria, que a pobreza lhes proporcionou.


Pois lá pelas ruas, de casas de madeiras velhas construídas,
As ruas são bem tristes… pois nem o alcatrão lá chegou…
E só a pequenada descalça, de roupas rotas vestidas,
Fazem da algazarra o colorido, que aos dias tristes animou.


E a riqueza que vive lá nos palácios atrás de muros escondida,
Mal sabe o que lhe irá suceder quando a pobreza perdida,
Não tiver mais comer… prós seus filhos alimentar…
Pois os ricos, que nisso contribuíram, podem-se ir preparando,
Porque as ondas da pobreza estão dia a dia aumentando,
Acabando por invadir as casas, onde a riqueza está lá a morar.


(J. Carlos – Fevereiro. 2011)
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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Coisas... ainda por fazer


COISAS… AINDA POR FAZER  

  

Olho a velha calçada,
Toda ela bem molhada,
Pela chuva morrinha que de noite lá caiu…
E lá no canto, vejo aquele velho sentado,
Pelo seu cão e fiel amigo, acompanhado,
Bem juntos, talvez por causa do frio que de noite se sentiu.



Perto de si passa gente, toda ela bem apressada,
Alguns vão sisudos, outros em plena galhofada,
Mas todos bem apressados, sem com eles se importar…
Outros, ainda olham com ar de comiseração,
Há até alguns que discretamente estendem a sua mão,
E no velho boné encharcado, lá deixam uma moeda a boiar.

… mas é então quando, com algum espanto meu,
Que vejo uma criancinha, que por ali apareceu,
Baixando-se, para uma pequena festa no cachorro fazer…
E logo vejo o pobre velho sorrir, e o rosto da criança afagar,
Talvez, quem sabe, por nesse momento se lembrar,
Daquele poema que para o seu neto, ainda tinha que escrever.


(J. Carlos – Janeiro. 2013)
Livro 3 (Sentimentos… da Minha Alma)
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Este poema... que a minha alma sente


ESTE POEMA...
QUE A MINHA ALMA SENTE 



Escrever poemas, é sentir na alma, uma estranha sensação,
Pois, em cada poema, o poeta passa pela estranha emoção,
De que muito de si… para o papel, está a transmitir...
E será talvez porque, o sentir de um grande amor,
Arrasta com ele, o sentimento duma profunda tristeza e dor,
Que escrevo, o que só outra alma poética, pode também sentir.



Poesia é dor, mas também será a mística expressão da alegria,
Será ver em cada coisa que é... e que não é... encanto e poesia,
Será viver o sofrer, para os seus mistérios depois desencantar...
Pois é ver, na semente, a linda árvore que dela irá nascer,
É ver entre folhas, a flor que ainda não é, mas que irá florescer,
E que irá dar outra semente... que outra poesia irá por cá deixar.



E esta dor... este sentir que dentro de si a minha alma sente,
É aquela poesia dum fado cantado na voz triste e dolente,
Duma fadista que chora... e que da alma a tristeza quer tirar...

E eu, que sempre procurei esquecer esta dor, esta tristeza,
Vou procurar que a minha poesia fale da alegria e da beleza,
Enquanto na vida, e neste meu estranho mundo… poder poetizar.

(J. Carlos – Fevereiro. 2009)
Livro 3 (Sentimentos… da Minha Alma)
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A mala... das nossas recordações


A MALA...
DAS NOSSAS RECORDAÇÕES 


                      
Lentamente, vou fechando a mala das nossas recordações,
Sim... porque aquela outra, a das tristezas, já ao mar a fui deitar,
E ainda tenho aquela, a dos nossos desejos e também das ilusões...
Mas essa por cá fica... pois só a das recordações, irei mesmo levar.


Posso até dizer que esteve sempre aberta para nela tudo guardar,
E tantas... tantas foram as alegrias que esta vida nos ofereceu,
Que por isso nem me admirei do peso, quando agora a fui pesar,
E quando me ria, até disseram: coitadinho, aquele já enlouqueceu.


Houve gente que me perguntou pela outra, a das tristezas,
Mas logo respondi, que de tão leve, nem delas me estou lembrando,
Porque até fiquei com dúvidas, se elas seriam mesmo certezas...
Ou apenas maus momentos, que na ocasião, estaríamos passando.


Assim, desta caminhada que juntos temos vindo a percorrer,
E em que dela só recordamos os bonitos momentos de prazer,
Levamos aqueles que ficaram gravados, nos nossos corações...

Porque tudo o mais... nesta vida terrena irá p’ra sempre cá ficar,
Pois p’ró sitio lá no céu, entre as estrelas, onde iremos lá morar,
Apenas iremos levar a mala... com as nossas boas recordações.


(J. Carlos – Fevereiro. 2009)
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domingo, 9 de junho de 2019

Papoilas vermelhas

PAPOILAS VERMELHAS



Olhos brilhantes, corpos rastejando
Na terra lamacenta, vermelha, ensanguentada,
Seus corpos trémulos, na noite, e no vazio segurando,
Nas mãos crispadas, o gatilho da espingarda,

Esperando, sozinhos, sem ninguém, sem desejos... só esperando.



Dias longos, gritos na noite escura, a morte procurando...
Quantas tristezas e lamentos, numa amarga sensação,
De homens morrendo, e o seu sangue misturando,
Com a terra, que até ontem, aos homens só lhes dava o pão.

E para quê...? Porque depois, muito tempo depois... tudo acabou.



E tantas luas, tantos sóis, tanta chuva, também por lá passou,
E o arado do lavrador, as sementes a essa terra misturou,
Esquecendo os outros tempos... de morte, de dor e desolação...
E na linda seara, que naquela terra vicejou,
Uma criança, na primavera, docemente, seus joelhos pôs no chão,
E suas ternas mãos, lindas papoilas vermelhas, apanhou.

Vermelhas...
como o sangue, que um qualquer soldado... um dia lá deixou.


(J. Carlos – Abril. 2006)
Livro 1 (O Outro Lado da Minha Alma)
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E a noite do silêncio... num novo dia se tornou

E A NOITE DO SILÊNCIO
... NUM NOVO DIA SE TORNOU  


Era o dia, daquele dia, quando a noite... desse dia, se apoderou,
E o som dos tambores do céu, por esta terra sangrenta ribombou,
Estremecendo as gentes... e as bases das aldeias e montanhas...
E os ais e os gritos longos do medo, se fizeram também ouvir,
E as mãos se ergueram de pranto... o que o medo fez sentir,
Quando esta sua terra, deitou fogo lá de dentro... das entranhas.


E os lagos lá do céu, em torrentes, sobre esta terra se abriram,
E nas vagas alterosas, as suas casas e as gentes se sumiram,
Não mais deixando ver a vida que na terra existia...
E o sol de assustado... atrás da noite negra se escondeu,
E por muito que as gentes lhe pedissem, nunca mais apareceu,
Dando assim força à profecia... que no seu gesto assumia.


E esta terra seca, vazia... por Deus, todo o tempo tão chorada,
De toda a guerra, das espingardas e canhões... ficou purificada,
Deixando de nela existir aquilo, que de mal cá existia...
E o sol... de mansinho... entre as nuvens de novo apareceu,
E junto, com os anjos lá do céu, também ele se enterneceu,
Ao ver esta terra renascida... que de verde, de novo, se vestia.


E o menino e a menina, que os anjos nesta terra protegeram,
De mãos dadas, do seu longo sono acordaram... e apareceram,
Olhando sorridentes para o sol... que também p’ra eles sorria...
E o milagre de novo... nesta terra amada, novamente aconteceu,
Porque toda a vida recriada, agora feliz e sorridente... apareceu,
E com ela, uma nova humanidade... nesta terra renascia.

(J. Carlos – Dezembro. 2008)
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... e o filho pequeno acordou, quando o sol estava já nascendo, e olhando para o alto das montanhas viu o céu brilhante e as cores rubras reflectidas na neve dos cumes e não compreendeu aquele brilho e se alarmou gritando para seu pai que era o fim do mundo... mas seu pai, que sendo mais alto e tinha outra visão, respondeu... 
“ Não meu filho, não é o fim do mundo... é a aurora de um novo dia...

(da Fábula do Alto da Montanha – do Livro Ladrão da Noite de William Sears)

CAMINHANDO… pelas ruelas