segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Balada... das horas que passam

BALADA...
das horas que passam 



Olhei p’rás horas que por mim passavam a correr,
Para onde eu não sei... só sei que logo sumiam,
E até pensei em ir atrás delas p’ra saber o que iam fazer,
Mas corriam tão depressa, que logo da vista se perdiam. 


Lá longe, quando passavam, eu ouvia as badaladas,
Que no sino da igreja alguém estava por lá batendo,
E pensei se estariam felizes… e por isso lá paradas,
Ou se estavam era á espera, que atrás delas fosse correndo.


E eu, velho tonto, vendo as minhas horas passando,
Olho p’rós minutos daquelas que estão chegando,
Na esperança de não partirem, mas antes por cá ficar…

Pois do relógio da vida que sempre a mim esteve ligado,
Nunca tanto como agora desejo que fique parado,
P’ra não ver as horas correr e por mim sempre a passar.

 
(J. Carlos – Dezembro 2009)
imagem da net

domingo, 27 de setembro de 2020

Noite de estrelas... e magia

NOITE DE ESTRELAS... E MAGIA  



Sentado, na beira do portal, olho aquele velho de ar cansado,
Estendendo a mão e pedindo, um pouco de pão para comer,
Mas todos olham em frente... pois vão num passo apressado,
E ninguém pára... para, da sua fome, alguma coisa saber.


As suas mãos... essas mãos já de pele bem enrugada,
Estendem-se, já dormentes, por tal gesto todo o dia repetirem,
Mas as gentes passam por ele... sem dele saberem nada...
Tapando até os ouvidos... p’rós seus queixumes não ouvirem.


E esse pobre corpo, pela indiferença da vida... maltratado,
Ajeita-se na noite escura, escondendo o rosto enrugado,
Naquela manta velha, que alguém, um dia lhe veio dar...

E quando o sono já de si se apodera, e as estrelas o vem cobrir,
Sente aquela mãozinha de criança... num lindo rosto, a sorrir,
Dando-lhe com carinho o pão, que Deus lhe pediu p’ra entregar.

 
(J. Carlos – Abril 2010)
imagem da net

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Ao som... dos protestos

AO SOM... 
DOS PROTESTOS



Resolvi sair p’rá rua, em forma de protesto,
Caminhando comigo próprio, calmamente, a falar,
Mas quase sem dar por isso… e tal coisa até detesto,
Comecei a ficar rodeado por pessoas… a gritar.


Depois, o número das gentes aumentou, e de que maneira,
E o barulho passou da fala, para uma grande barulheira,
Aparecendo logo a seguir, bandeiras e bandeirinhas…
E também alguns políticos das esquerdas, de punho no ar,
E mais outros das direitas, já desengravatados, a gritar,
A que se juntaram os do centro, saltitantes e ás piadinhas.


Só que isto começou a ganhar tal envergadura,
Que logo veio a policia mostrar a musculatura,
Para os manifestantes dispersarem á custa do empurrão…
E eu, pobre velhote, que no meio disto tudo fiquei enredado,
Que só saí á rua p’ra falar… fiquei de tal modo enfadado,
Que fui a correr ver a manifestação, na velha televisão.

E nela… entre gritos, encontrões e pedras atiradas,
Logo apareceram alguns vidros, de montras quebradas,
E alguns protestantes surripiando, aquilo que estava à mão.



(J. Carlos – Julho 2012)
(foto El País)

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Calaram-se as vozes... lá na aldeia


CALARAM-SE AS VOZES...
lá na aldeia



Já se calaram na aldeia... as vozes dos aldeões,
Começando lá na serra... logo os lobos a uivar,
E pelas ruas vazias... já só andam os ladrões,
Enquanto no meio do sono, as crianças, deixam o sonho voar.


E as corujas vão p’rá torre da igreja... toda a noite lá piando,
Enquanto um cão vadio espreita nos caixotes... procurando,
Por uns restos de pão seco... para a lembrança da fome tirar...
E os meus olhos insones, que se escondem atrás desta vidraça,
Repara naquela figura dum velho, já encurvada, que passa,
Procurando por um canto, onde se possa deitar e descansar.


E nesta noite bem negra, com um frio de rachar...
Em que nem as estrelas, aos pobres, vieram fazer companhia,
Volto p’rá minha cama, bem quente, p’ra este corpo deitar,
Pensando no que a noite negra e triste... afinal cá encobria.


(J. Carlos – Maio 2011)
imagem da net


Abandonados...


           ABANDONADOS…         



Fecho os meus olhos p’ra não ver,
Tanta gente que passa sem para mim olhar,
Pois sou apenas mais um velho a sofrer,
Que anda neste mundo… a estorvar.

Sou só alguém que anda pelas ruas, pedindo,
Por uma simples côdea de pão, para poder comer,
Mas passam, e ninguém fica por mim sentindo,
O simples desejo da sua mão me estender…
Pois este velho aqui sentado neste canto da cidade,
Que amontoa sacos e puxa o velho carro de mão,
Já para nada serve a esta triste e frenética sociedade,
Que, complacente, o deixa dormir no canto, lá no chão.

Por isso…
Deixem-me… deixem-me com a minha solidão,
Passem de largo… sem tampouco comigo se importar,
Deixem-me… deixem-me apenas dormir… e sonhar.


(J. Carlos – Agosto 2011)
Imagem da net

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/juan/reporter-tvi-um-lar-debaixo-da-ponte

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Com estrelas... deixo o caminho marcado

COM ESTRELAS...
deixo o caminho marcado      




Olhei, na areia da praia, os meus passos lá marcados,
Que p’ra ti queria deixar... para aqui me encontrares,
Só que sinto que não virás, e eles irão ficar abandonados,
Mas a ti, onda do mar eu peço... para nunca os apagares.



Pois eu não sei porquê, mas no coração há esperança,
E ela será, sem qualquer dúvida, a ultima que irá morrer...
Pois confesso, que em mim, ainda há aquela lembrança,
Dos belos momentos, que para voltarem, eu tudo irei fazer.



Agora que olho o infinito, a ver se por lá te vou encontrar,
Mesmo onde o mar toca o céu, e onde ainda não te procurei... 
Como não sei, se as marcas dos meus passos poderei deixar,
Nas estradas do céu, com estrelas… o caminho marcarei.



(J. Carlos – Maio 2011)
imagem da net

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Serra sofrida... das giestas queimadas


  SERRA  SOFRIDA
… das giestas queimadas



Quando, cá de longe, p´rá serra olhava,
Procurando, no coração, a beleza recolher,
Por todos os lugares por onde eu passava,
Não a encontrava… nem sentia tal prazer.


Apenas via ao longe o fogo que queimava
O verde da serrania, e fazia a giesta sofrer...
Via o pobre animal que lá ao longe saltava,
Fugindo do lume que tudo faz desaparecer.


E a tristeza se apodera do meu coração,
Pensando no homem de balde na mão,
Tentando a todo o custo o inferno apagar…

Mas o diabo de tudo o mais já se apossou,
E por muito que deitem, a água não chegou,
E o fogo contínua e não há maneira do parar.


(J. Carlos – Setembro. 2020)

https://www.publico.pt/2020/09/07/sociedade/noticia/pj-deteve-alegado-autor-tres-fogos-sever-vouga-1930623

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/incendios-en-328-em-sever-do-vouga-cortada-devido-ao-fogo-que-deflagrou-em-oliveira-de-frades

CAMINHANDO… pelas ruelas